Teto de vidro ou paredes de fogo? Um estudo sobre gênero na carreira acadêmica e o caso da UNICAMP

Autor: 
Marilia Moschkovich
Estudos sobre gênero e sua influência na construção das carreiras acadêmicas têm revelado que as mulheres se encontram numa situação de desvantagem substantiva nesse espaço profissional. Examinando a questão em países como Estados Unidos, Inglaterra, França, Holanda e Austrália, esses estudos atribuem tal desvantagem principalmente à oposição socialmente construída entre exigências das esferas profissional e doméstica e ao peso que a percepção subjetiva do valor do trabalho desempenhado por homens e mulheres tem nos processos de contratação e promoção. Esta pesquisa oferece uma contribuição para essa área de estudos, tomando como objeto a carreira acadêmica numa grande universidade pública brasileira – a Universidade Estadual de Campinas. Seu interesse é estudar uma carreira na qual esses dois elementos encontram-se, pelo menos parcialmente, eufemizados: em primeiro lugar, as mulheres que ingressam na carreira acadêmica nessa universidade podem pagar por trabalho doméstico remunerado e, dessa forma, reservar uma parte maior do tempo disponível para o trabalho científico. Em segundo lugar, a carreira acadêmica nas universidades públicas brasileiras, por se configurar como uma carreira do funcionalismo público, são submetidas a regras mais impessoais no que diz respeito à contratação e promoção. Além disso, no caso das universidades estaduais paulistas, que gozam de autonomia administrativa e orçamentária, os critérios que presidem as contratações e a promoções são definidos de maneira colegiada. Os resultados mostraram que: (i) as mulheres não se encontram em desvantagem sistemática para chegar ao cargo mais alto da carreira; (ii) o sexo está atrelado a certos padrões de trajetória profissional, as mulheres apresentando, por exemplo, circulação internacional e bolsas produtividade com menor frequência do que os homens; (iii) as exigências sociais com relação ao cuidado com filhos e com parentes mais velhos recaem ainda sobre as mulheres; (iv) o gênero representa uma série de limites anteriores, e outros diretamente ligados à carreira acadêmica para as mulheres brasileiras, limites esses que tornam as trajetórias das mulheres significativamente mais ‘tumultuadas’ do que a dos homens, mesmo quando comparados apenas docentes que chegaram a posições de bastante reconhecimento em suas áreas.
Tipo: 
Dissertação