Remuneração e Justiça: a percepção da desigualdade no Brasil

Período: 
2003-2009
Coordenação: 
Ana Maria F. Almeida
Financiamento: 
Laboratoire de Sciences Sociales, Ecole Normale Superieure
CNPq
Num país onde a desigualdade de renda é atestada como das maiores do mundo e, além disto, como particularmente persistente no tempo, importa também erigir em objeto de estudo os processos que contribuem para sua legitimação. Os próprios economistas e, entre eles, os especialistas da distribuição de renda – como Piketty na França, Atkinson no Reino Unido ou Krugman nos Estados Unidos – demonstraram, em seus trabalhos recentes, os limites das explicações puramente econômicas (progresso técnico enviesado, abertura internacional) para dar conta do crescimento das desigualdades em certos países ocidentais. As modificações nas “normas sociais”, relativas sobretudo à tolerância à desigualdade, teriam desempenhado, segundo eles, um papel importante nesse processo. Sobre isto incidem, sem dúvida, os estudos que procuram captar os aspectos mais subjetivos relacionados à existência dos altos índices de desigualdade, na medida em que podem, em boa medida, contribuir para se compreender também a resiliência da desigualdade num país que tenta aprofundar sua experiência democrática. Esse projeto insere-se nesse ramo da produção, fortalecido no Brasil pelos estudos pioneiros de Elisa Reis, e tem por objetivo interrogar sobre as formas de julgamento das remunerações pelos atores sociais, assim como sobre os critérios e as concepções de justiça aos quais se referem para julgar o que ganham. O objetivo é construir o ramo brasileiro de uma comparação internacional com a França e Estados Unidos, cuja coordenação geral está a cargo de Christian Baudelot, pesquisador do Laboratoire de Sciences Sociales da École Normale Supérieur de Paris. Desde 2005 esse projeto tornou-se um sub-projeto do projeto “As dimensões sociais da desigualdade”, sob coordenação de Nelson do Valle Silva, desenvolvido com apoio do Cnpq, edital Institutos do Milênio, que prepara um enquete nacional sobre diversas questões ligadas ao tema. O FOCUS, sob minha coordenação, está encarregado de montar a parte do questionário.